domingo, 7 de novembro de 2010

APESAR DO ESCURO

Assim como quem acorda e encontra tudo fora do lugar
Eu despertei e não achei uma única pista do meu destino
Por onde andei, sabia eu, nunca acharia o meu caminho
Porque fiz do meu eterno "passar dos dias" um breve esquecimento

E o alento de me ver chorar apenas ao entardecer também é breve
Ha passos que se encontram sem nunca terem visto um ao outro
E mãos que se entrelaçam mesmo antes nunca serem parte de nada
Há madrugadas em que o berço dos sonhos desde sempre alimentados
Cai em meio ao poço profundo de mais um copo de whisky barato

Assim como confetes na ilusão da profana alegria de criança
Girando a chave que prendia meu corpo largo, imenso de saudade
Quis fugir do poço onde me abrigava e correr para a vida
Fazendo de cada despedida um breve adeus a esperar a volta

Mas o alento de me ver chorar apenas ao anoitecer também é breve
Como breve foram as partidas entre dias e noites ao relento
E o céu, gris, cinzento, vai também querer chorar um dia
Inundar nosso caminho, antes seco e vazio, agora turvo
E que nos fará olhar um no outro e nos enxergar, apesar do escuro.


W.Borba (Choppinho) - 11/10/2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DE PASSAGEM

Partida é a porta que leva
Saudade, a janela que traz
Volta e depois sossega
Como um abraço em que se vai
Eu vi braços que se erguiam
Entre os vãos por onde andava
Ora entravam, ora fugiam
Do medo que não passava
Estava longe quando parti
E solto, o beijo teu ficava
Rastejando pelos trilhos
E o caminho terminava
A saudade então fechava
A janela que se abria
Sem dizer por onde entrava
Fez-se luz onde nada havia.

W. Borba (10/10/10)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CRÔNICA Nº 5

É, você conseguiu
Hoje você conseguiu me fazer chorar
Finalmente viste lágrimas em meus olhos
Parabéns, você conseguiu
Eu não faria diferente
Tanto fizeste para que eu fosse só de ti
Tanto pediu pra nossos corações serem um
Monossilábicos...
Diagonalmente teu
E tão fácil me dei
Fiz por mim, fiz por você
Fiz por nós acima de tudo

Hoje você não só conseguiu
Como me fez sentir dor
E eu chorei
Chorei e lamentei a tua ausência
E tu, tu nada fizeste
Talvez tenha sorrido
Duvido que tenha sofrido

Quanto a mim?
Sofri...
Se é isso que queres saber, sofri
E, de coração, não te culpo por isso
Porque se me entreguei a carne e a pele
Fui eu, e somente eu me condeno
E padeço, saciado de tudo
Das mentiras, das bobagens e da tristeza

Hoje eu confesso que desabei
Desagüei no meu próprio poço sem fundo
E desfaleci, torpe, inerte
Parei de pedir teu abraço
O único laço
E vejo que é sempre assim
Mente fraca, corpo sóbrio
O último gesto de amor
É sempre uma palavra de ódio.


W. Choppinho
(Agosto / 2008)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PARECIA PERDIDO

Parecia perdido, porém passou
Procurava pôr primeiro os passos
Pois parava pela pista e ponderava
Porque precisava pintar paredes
Prosseguir por entre pincéis
Por precaução, preparei plurais
Proclamei paixões, perdi meu pares
Pude, portanto, permitir a primeira
Plenamente perversa pelo que parecia
Parar os pilares e pacificar prisões
Por parar perante a planície
Percebi palmeiras ali plantadas
Por pacto ou por pena
Pulei pelos pontos pretos
Pintados pelos punhos permissivos,
Passivos e pretensiosos
Pude pedir para parar por piedade
Piedade de propósito,
Própria da penúria
Parecia perdido, porém passou.


W.Choppinho
Julho, 2010

CRÔNICA Nº 6

Ela tocou meu rosto e disse adeus
Saiu pela porta da frente com o olhar cálido
Parecia suportar uma dor que não comporta
E naquele instante eu me vi mais triste

Foi sincera e me deixou a banhar os olhos
Senti as mãos gelarem perante sua sombra
Partiu como um rio parte a buscar o mar
E naquele instante eu me vi mais triste

Ela passou a porta e me deu as chaves
Olhou a fachada e fechou os olhos
Sentiu o sal de uma lágrima cair à boca
E naquele instante eu me vi mais triste

Me abraçou e beijou meus lábios
Vestiu os óculos e atravessou a rua
Me olhou de longe a acenou com os dedos
E naquele instante eu me vi mais triste

Um ano se passou e ela bate a porta
Que meses a atravessou chorando
Abriu os braços e me abraçou em silencio
Tocou minha face e me beijou os lábios
Pediu perdão e me amou intenso
E naquele instante deixei de ser triste.

domingo, 1 de agosto de 2010

CARTA ÀS SENHORAS E AOS SENHORES

Soltando os laços eu me regenero. Não sou o que o mundo molda, minha vida não tem roteiro. Eu vivo porque a vida é aquele micro-infinito que usamos pra calcular nossa própria miséria. Não consigo me adequar a exatidão da vida, pra mim é muito mais do que peças que se encaixam. Eu gosto é de bagunça, o inexato me atrai. Gosto de gente de meu lado, sozinho eu não dou conta. A crítica é natural pra quem vive assim, nunca fui e nunca quis ser unanimidade. Aqueles que se cansam da mesmice das coisas, da preocupação com um futuro até mesmo incerto o qual todos eles defendem como o “ciclo natural do homem na terra”, não são felizes. Definitivamente, essa gente não é feliz. São hipócritas que enchem a boca de demagogia e chegam quase a incitar uma masturbação humanística e sociológica. Em que pedra foi escrita que o homem nasce com o propósito de se ver no futuro um ser imóvel e supostamente “saciado” de tudo que já viveu? Esses são os filósofos da famosa frase “não tenho mais idade pra isso”. O tempo da alma não acompanha a cronologia. A vida é mais que viver de recordações e nos satisfazermos com aventuras angustiantes como o aluguel, a escola das crianças e o plano de saúde. E por isso nunca serei aceito, nunca me chamarão para essas caretices como chá-de-bebê e encontro de casais em pleno sábado a noite. Porque meu grito não é pros tímpanos dessa gente careta e falso-moralista. Meu grito é pra lua, meu uivo é pro vento. O futuro é o espelho do que eu sou agora. E se eu tenho sangue nas veias e vivo a derramar meu prazer por aí é porque tou vivo... vivo... vivo!!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

EU ME PERCO SOZINHO

Eu me perco sozinho. Foram vozes, dentre elas, a que me fala. Pois saudade é poeira do tempo e graxa de engrenagem. Vi-me, eu, a lembrar das tardes em que vinhas a minha procura, com a boca cheia de vontades e os olhos refletindo a luz da face, que a penumbra fez saber do seu segredo escondido diante do primeiro cálice. Fez tomar-se este segredo e descobrir-se diante do abismo, que traz no arcabouço do seu mote a presunção de tornar-se inimigo do seu próprio medo. Cavavas este caminho ante ao teu desejo e choravas de dor. Doía, e com a dor se fazia o dia que explodia no prisma as cálidas mensagens de amor. Se perto era à diante, radiante sorrias e eu só sentia pavor. De certo era tudo o que querias em meio a agonia de enfrentar o passado e ajoelhar-se ante a redenção do mesmo medo. Purificado para ser amaldiçoado, replicava as horas como se segundos antes deste instante, o agora fosse tudo o que não vinha. E mesmo eu, a lembrar teus beijos antes guardados neste mundo louco que é o sonho de sonhar contigo, me fiz de surdo quando falaram dos teus atos desvalidos e insignes. Hoje fora a mesma face e eu não fugi do teu domínio. Este talvez seja o maior dos receios que adormecem longe do meu poço de coragem e desespero. Eu me perco sozinho.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O TERCEIRO ADEUS

Contudo, ainda se faz tarde no céu cinzento
Se pouco via a luz, agora tanto faz como tanto fez
Minha pele já não sente o calor dos teus abraços
Não é a mesma coisa da luz, é outro lance
É como criança prematura e sua necessidade de carinho
Não basta cobrir-me no edredom
E abraçar o travesseiro
Pois nele não há teu cheiro, não se ouve teu ofegar
Não me tocas daquele jeito, quando menos espero
É um invólucro de papel que não se abre
Na devoção que sempre tive a teu apreço
Fico como um menino espremido na janela fechada
A balbuciar canções que falam da chuva
E a tarde se vai com uma saudade incontida
Daquilo que não se tem e do que jamais volta.

W. Borba – Jan/2010

AS PUTAS DO RECIFE

As putas do Recife não cobram o que dão
Elas são fiés da grana e do status de homens
Que andam enviesados pelas ruas com suas pick-ups
A mostrar ao mundo que tudo se resume a isso
Outros têm fazendas e sítios que impressionam
Maioria só tem um carro, presente do pai.

As putas de Recife são bonecas de porcelana
Com a índole de barro e o caráter de azulejo
A vagar nas noites a procura de alguém de sua fé
Que banque seus luxos e pague seus whiskys
Satisfazendo-se de pouca migalha dada
E enchendo os olhos das amigas de inveja.

As putas de Recife são as verdadeiras putas
Não que em outras cidades elas não existam
Mas aqui eu as vejo e posso observá-las
Ninguém as encontraram em puteiros ou nas ruas
Basta enxergar no topo dos prédios
E nos bares chiques da cidade
Sempre com algum homem de camisa pólo e brasão
Para pagar a fatura com o valor da sua genitália.


W.Borba - Mar.2010

domingo, 13 de junho de 2010

POR QUE VIESTE?

Por que eu vim?
Porque vieste
Não é só pela vontade
Não basta ser por um desejo.
São mais que dois caminhos
É só e por si só uma necessidade

Porque eu vim
Por que vieste?
Não é um mero "ter pra você"
É um sincero "ser de você"
A gente não se basta se distante
Pois se junto prolonga a saudade
Por que eu vim?
Porque vieste
Pois o esboço do mesmo corte
Tá na carne e não na pele
Somos fieis e desonestos
Sendo infieis à luz da lealdade

Porque eu vim
Por que vieste?
Se a rosa é fulígem de fábrica
E meu eu é espelho do teu sangue
Antes foste apenas tudo pra mim
Hoje nem és, pelo que foste um dia.


W. Borba (Set/08)

terça-feira, 1 de junho de 2010

NOVE DIAS

Deita em meu abraço agora
Que lá fora já são três da manhã
E o amanhã é fato e tempo
Um consenso entre a sombra e a luz
Então ainda temos com o que sonhar

Ouça, são dois passos e mais um
Agora já são vários e os nossos
Somos muitos sendo apenas dois
E é o tempo que diz se estamos,
Se somos ou se ainda temos

Veja o sol que nasce por entre as nuvens
Nove dias procurando a sua luz
Deitados entre pedras e algodões
Num longínquo espaço entre dois nós
Que parte o tempo em três depois
E une os braços em um só antes.



W. Borba
Maio de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

SENTAR-SE À MESA

Já faz tempo que eu digo
Que pra sentar-se à mesa comigo
O sujeito tem que ter coração
Tem que sofrer de fato e de direito
Não ter nenhum preconceito
De cor, sexo ou religião
Tem que falar de uma antiga ilusão
Destilar sua angústia guardada no tempo
Tem que saber que o sofrimento
É a viga que sustenta sua desolação
E de que vale uma noite no bar
Se o homem não chorar
Lembrando sua grande paixão?
Tem que cantar Alcione comigo
Lamentar a morte do Vinícius
E crer no poder da reencarnação
Acender um cigarro de menta
Perguntar se o garçom agüenta
Mas uma horinha de sofreguidão
Rir em tom de cinismo
Das morenas que passam sorrindo
Clamando por nossa atenção
Por fim, pedir a tal dolorosa
Dar uma gargalhada fogosa
E um abraço aqui, no irmão.


(W. Borba - Fevereiro de 2008)

terça-feira, 18 de maio de 2010

CRÔNICA Nº 7

Ainda é o mesmo quarto em que juntos confabulávamos e dividíamos tantos segredos. Ainda ouço Smiths e Chico antes de dormir. A sala mesmo vazia, emana reflexos oriundos do passado, como um enorme holograma das nossas próprias lembranças. E indiferente, ali estou eu... sentado no canto da sala, deitado em teu colo. Ainda sinto o cheiro do café torrado e dos ovos fritos que costumavas deixar passar do ponto. Ainda é o livro do Hermann Hesse que repousa com a orelha dobrada na página 76. Sim, ainda uso cuecas - box brancas.. e parece que foi ontem que zombavas de mim por preferires as velhas samba-canções que usava desde os 22 anos. O vizinho ainda me pede toda sexta pra eu baixar o som da sala, ainda ouço o latido dos cães brigando por sexo no meio da rua. Mesmo não podendo exagerar, ainda fumo alguns cigarros quando estou bebendo e acho que vou parar mais cedo do que imaginava. E tudo que eu fale agora talvez seja pra ainda poder dizer que sinto tua falta. E talvez nunca pudesse deduzir que sentiria tanto, mesmo tão ocupado e sem tempo pra nada. É que cada pedacinho dessa casa tem o teu retrato impresso em lágrimas com uma tinta invisível. Pois essas paredes lamentaram junto comigo a tua ausência e esta caneta já se finda por excesso de uso. Ainda dá pra sorrir no fim da tarde, a solidão passa a ser companheira de todas as horas. Acho que o "fica bem" que disseste antes da partida tem um sentido, agora, mais abrangente. Ainda quero te dizer que estou bem, mesmo com tudo que me toma, essa explosão de sandices quando toco no teu nome. Ainda quero que me encontres, em qualquer lugar longe daqui. É preciso sentir que existes fora desta realidade a qual compartilho todos os dias.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

É tarde triste e manhã sem rosto
Feliz é o sol que se esconde dos outros
E outros que se escondam de si
Pela noite instruída a não se expor
Cuidam de rosas extintas no pé
Abrem portas que pelo lado de fora
Contam estrelas sem saber para que.


W.Borba
Recife, 01 de Abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

CINCO ALMOFADAS VERMELHAS

Numa noite, qualquer noite, noite passada
Era madrugada enquanto te via
Te emoldurava quadro a quadro em teus gestos
E teu olhar, aquele olhar, do primeiro ao último olhar
Sem querer me refletia
Sem querer abri meus olhos
Sem querer te conhecia
Tudo se espalhou e tudo convergia
Em cada toque, em cada beijo, em cada sorriso
Eu me nutria de desejo e te queria
Te seduzia e te deixava sem graça
Alí na sala, uma cerveja, cinco almofadas vermelhas
O tapete e você,
Você no centro de tudo e tudo em volta estava escuro
Sem ligar para o cansaço, encolhida em meu abraço
Éramos nós e o nascer do dia
Minha boca em teu pescoço, tua mão na minha
Te beijei, te senti, e teu cheiro entorpecia
Pele branca, cabelos negros,
Um sorriso que de tão verdadeiro
Transformava tudo aquilo um mero faz-de-conta
Mas não querias, não te deste a mim
Tantas razões e nenhuma convencia
Mas esse amanhecer contigo
Vou levar sempre comigo
Até o fim dos meus dias.


W.Borba
Recife, 31 de Março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

UM EU QUE CHORA QUANDO NÃO ESTOU

O EU que aparece em volta desta sombra
É deserto e renasce ao mesmo tempo
Por vias de uma morte anunciada de fato
É um EU que muda com o passar das horas
Um sino que badala a penumbra erma
Esse EU que aparece no centro do meu teto
É um hóspede da sua própria insolência
Data a ferida exposta com a casca
Mergulha ainda que disperso onde se nutre
Sem ser maravilha, sem ser desprezo
Como um gole do mesmo veneno que o mata
É um EU que absorve um adeus com saudade
E devora um abraço com penúria e sofreguidão
A mil metros de um silencio ensurdecedor
Se abriga com um medo de achar a porta
Do elevador que se transfere em vãos
Esse EU quer ser o mesmo que o chamam
Entre o ouvido e a palavra falada
Morre em meio ao fogo que brota do chão.


W.Choppinho
Março de 2009

POEMA EM LÁ MENOR

É quase como não ver a vida
Cada vez que de ti me aproximo
E declamo versos tortos, ingênuos
As vezes te faz pensar que nada mais declaro
A não ser essa minha incoercível vontade
E esse meu desejo constante e indizível
De protelar tua partida
Deste-me o prazer da tua companhia
Das tantas vezes que olhei em teus olhos
E me parecia como se nada existisse
Além de uma tristeza ainda doída
Mas acima de tudo, um olhar pedinte
Um sorriso quase que forçado
Esperando o feixe de um sol adormecido
Pronto para o sereno despertar de um júbilo.
E por fim, a tua beleza
Calmamente contemplada por meus olhos
Desfiando teu contorno no cerne da ilusão
E te venero, e te idolatro
Mesmo sem teu consentimento
Mesmo com todo o teu desprezo
Do que vem a ser teu nome, a rainha do mar
Cabelos escuros e pele branca
A dourar as folhas que te “clorofilam”
E a me fazer fiel ao teu contentamento
Sempre quando por mim passares
As folhas deste meu jardim pálido
Renascem em devaneios do tempo.


W.Choppinho
Março de 2009

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

AINDA CAMINHAS PELA CASA

Tua sombra ainda caminha pela casa
Num falar baixo, num caminhar leve
Ainda deitas sobre o lado esquerdo da cama
Figuras como um imenso corte de seda
Perfumada com maçãs colhidas na alvorada
Teus passos ainda são audíveis
Ao mesmo tempo em que me causa estranheza
Estás no caule da mesma margarida
És o tempo e o contratempo da saudade
Mumificada em minha lembrança
Idolatrada em minha profunda tristeza
Não há muito o que se pensar
Pois adormeces em meu desassossego
Diante o mesmo ponto eqüidistante
Ao outro lado do infinito
Ainda que inerte, a casa vazia,
Soa como um grito ensurdecedor no silencio
Ainda que não se escute tuas preces
A mesma madrugada vai encobrir meus olhos
Com a mesma saudade que me cobre de lágrimas
Agora não há mais nada além do inexprimível
São só trovões e chuva torrente
E a casa sempre irá permanecer morta
Enquanto dela estiveres ausente.

A ILUSÃO ABSURDA DA VIDA

Então é Fevereiro e chega a hora do sonhar
Do faz de conta inquietante e necessário.
A cada ano a gente se veste de desejo
De saudade, de crítica, de anarquista louco.
Dar na cara o pó da ilusão absurda da vida
Ser palhaço e ser um bêbado maluco pelas ruas
Procurando um olhar que dê paixão
Por dizer assim, um coração que se estilhace
E no meio da folia se abrigue uma saudade
Por mais que louca, por mais que vadia
É só um porre de insanidade nas narinas
Descer ladeira e se espremer na multidão
A cantar a oração sádica da balbúrdia
Beijar a boca da primeira bailarina
Que se esbalda de sonhos ante olhos
Ou da borboleta que passeia perfumada
Inebriando o caminho por onde passa
É hora do burguês mendigar o beijo
E do plebeu ser ator de si mesmo
Pulemos a cantiga do escárnio generalizado
Como nunca antes frevamos nas ladeiras do tempo
Por um momento, por um desejo
O beijo, o sonho, o porre e o medo.


W.Choppinho
Recife, 22 de Janeiro de 2010

PERDIDO EM MEU MUNDO

Aqui, eu e meu mundo. Perdido e procurando respostas pras coisas que por muitas vezes não se questionam. Sou um simples jovem, metido a fazer versos do Recife. Cidade que traz a beleza das obras e virtudes de outrora e escancara a miséria e desumanidade. O que eu busco é encontrar a beleza em tudo que se faz presente no universo, nada para mim é completamente sujo que não se possa ver o seu núcleo, a sua essência. O ser humano é belo... é ímpar, tanto na capacidade de amar quanto na qualidade destrutiva. Mas é a beleza do ser que eu procuro, e é por ela que hoje me encontro PERDIDO EM MEU MUNDO. Meu mundo pode não ser um bom lugar pra se viver, mas com certeza é um ótimo lugar para apreciar a vida. Venha quem quiser, meus braços e minhas letras estão estendidas para a vida.