segunda-feira, 31 de maio de 2010

SENTAR-SE À MESA

Já faz tempo que eu digo
Que pra sentar-se à mesa comigo
O sujeito tem que ter coração
Tem que sofrer de fato e de direito
Não ter nenhum preconceito
De cor, sexo ou religião
Tem que falar de uma antiga ilusão
Destilar sua angústia guardada no tempo
Tem que saber que o sofrimento
É a viga que sustenta sua desolação
E de que vale uma noite no bar
Se o homem não chorar
Lembrando sua grande paixão?
Tem que cantar Alcione comigo
Lamentar a morte do Vinícius
E crer no poder da reencarnação
Acender um cigarro de menta
Perguntar se o garçom agüenta
Mas uma horinha de sofreguidão
Rir em tom de cinismo
Das morenas que passam sorrindo
Clamando por nossa atenção
Por fim, pedir a tal dolorosa
Dar uma gargalhada fogosa
E um abraço aqui, no irmão.


(W. Borba - Fevereiro de 2008)

terça-feira, 18 de maio de 2010

CRÔNICA Nº 7

Ainda é o mesmo quarto em que juntos confabulávamos e dividíamos tantos segredos. Ainda ouço Smiths e Chico antes de dormir. A sala mesmo vazia, emana reflexos oriundos do passado, como um enorme holograma das nossas próprias lembranças. E indiferente, ali estou eu... sentado no canto da sala, deitado em teu colo. Ainda sinto o cheiro do café torrado e dos ovos fritos que costumavas deixar passar do ponto. Ainda é o livro do Hermann Hesse que repousa com a orelha dobrada na página 76. Sim, ainda uso cuecas - box brancas.. e parece que foi ontem que zombavas de mim por preferires as velhas samba-canções que usava desde os 22 anos. O vizinho ainda me pede toda sexta pra eu baixar o som da sala, ainda ouço o latido dos cães brigando por sexo no meio da rua. Mesmo não podendo exagerar, ainda fumo alguns cigarros quando estou bebendo e acho que vou parar mais cedo do que imaginava. E tudo que eu fale agora talvez seja pra ainda poder dizer que sinto tua falta. E talvez nunca pudesse deduzir que sentiria tanto, mesmo tão ocupado e sem tempo pra nada. É que cada pedacinho dessa casa tem o teu retrato impresso em lágrimas com uma tinta invisível. Pois essas paredes lamentaram junto comigo a tua ausência e esta caneta já se finda por excesso de uso. Ainda dá pra sorrir no fim da tarde, a solidão passa a ser companheira de todas as horas. Acho que o "fica bem" que disseste antes da partida tem um sentido, agora, mais abrangente. Ainda quero te dizer que estou bem, mesmo com tudo que me toma, essa explosão de sandices quando toco no teu nome. Ainda quero que me encontres, em qualquer lugar longe daqui. É preciso sentir que existes fora desta realidade a qual compartilho todos os dias.

PERDIDO EM MEU MUNDO

Aqui, eu e meu mundo. Perdido e procurando respostas pras coisas que por muitas vezes não se questionam. Sou um simples jovem, metido a fazer versos do Recife. Cidade que traz a beleza das obras e virtudes de outrora e escancara a miséria e desumanidade. O que eu busco é encontrar a beleza em tudo que se faz presente no universo, nada para mim é completamente sujo que não se possa ver o seu núcleo, a sua essência. O ser humano é belo... é ímpar, tanto na capacidade de amar quanto na qualidade destrutiva. Mas é a beleza do ser que eu procuro, e é por ela que hoje me encontro PERDIDO EM MEU MUNDO. Meu mundo pode não ser um bom lugar pra se viver, mas com certeza é um ótimo lugar para apreciar a vida. Venha quem quiser, meus braços e minhas letras estão estendidas para a vida.